Bodas de Diamante
Bodas de diamante
Por Vanderlei Testa
O amor no casamento não tem idade
para celebrar. Vale pra vida toda. Seja um ano de casado ou 75 anos, como é o
caso da Aurora Tezzoto Belini e do Eugênio Bellini. Calculei os dias. Foram 365
dias vezes 75. Deu no total a generosa marca de 27.375 dias e, em horas, 657
mil. Isso mesmo! Eles estão casados com a alegria de terem conquistado um
sentimento diário nesse tempo incrível de amor conjugal. Se, é orgulho para os filhos,
imagine para eles que um dia distante em 30 de setembro de 1944, em plena
Guerra Mundial subiram ao altar da Igreja Matriz de Tietê para darem o sim
eterno. Namorados naquela época eram
muito bem educados na sua formação familiar para o matrimônio, onde não havia
contato pessoal de beijos e abraços em locais públicos. O olhar brilhante dos
jovens enamorados acontecia nas idas que faziam para os seus pais aos armazéns
da vizinhança da roça, nos bailinhos e até nos jogos de futebol nos campinhos
da comunidade.
Abrimos aqui uma história dos recém-casados
Aurora e Eugênio no nascimento do primeiro filho Pedro nascido em Tietê. Com as
dores do parto da Aurora, o jovem Eugênio pediu à sua tia Ermelinda para ela ir
buscar a parteira. Com sua charrete pronta em minutos com o cavalo “Herói”, a
tia foi buscar a parteira na escuridão da noite em longos quilômetros de
distância da sua casa. Chegando à casa da parteira depois de quase uma hora, o
marido atendeu na porta de sua casa e não autorizou sua esposa sair para fazer
o parto devido o horário tarde da noite. Imagino a decepção e desespero da tia
Hermelinda, pensando na sobrinha com as dores daquele momento inesquecível da
sua vida. Sem outra opção de parteira, retornou de imediato com a sua charrete
à casa da Aurora. Resultado: A própria tia Ermelinda acabou por fazer o parto,
sem nunca ter realizado esse
procedimento. Até hoje a Aurora agradece a Nossa Senhora do Bom Parto
pela vida do filho Pedro que nasceu com saúde naquele dia repleto de emoções.
A mocinha Aurora, o mocinho
Eugênio e o menino Pedro, das ruas empoeiradas da cidade de Tietê, terra do
poeta Cornélio Pires, vieram para Sorocaba em 1946 indo morar com os pais na
rua Olavo Bilac, Vila Santana. Vamos imaginar eles passeando na poesia desses
anos da década de 40 na cidade de Sorocaba de antigamente. Carroças, bondes e
os operários caminhando a pé ao trabalho nas fábricas de tecidos da cidade. Foi
na fábrica de macarrão Campanini que o Eugênio arranjou o primeiro emprego. A
Catedral com a praça central cheia de romeiros em dias de romaria de Nossa
Senhora Aparecida contava com a presença de Aurora e Eugênio que iam a pé até a
Aparecidinha. Os apitos da Estrada de Ferro Sorocabana com seu som acordando os
ferroviários que moravam na sua maioria no bairro Além Linha dava ao Eugênio o desejo
de trabalhar na ferrovia. Com o sonho realizado, Eugênio foi trabalhar na
Estrada de Ferro Sorocabana-FEPASA, enquanto a esposa lavava e passava roupas à
vizinhança para ajudar no sustento do lar. Agora, já aposentado da ferrovia,
Eugênio vê com tristeza o abandono das oficinas onde dedicou a sua vida
profissional. O Eugênio gostava de futebol e participava como torcedor do
Campeonato Citadino em 1950, onde o São Bento e o Estrada eram os principais
times da cidade. Torcedor do São Bento continua acompanhando o time da sua casa
na rua Ubirajara ouvindo os jogos pela rádio.
O livro “A Mística do Instante” escrito
pelo José Tolentino Mendonça, traz na capa as palavras “O tempo e a
promessa”. Tolentino é sacerdote e um
dos pregadores escolhidos pelo Papa Francisco para estar ao seu lado no
Vaticano. No dia 1º de setembro de 2019 foi nomeado Cardeal. Sábio, o português Tolentino diz na obra: “que
você ama aquele que verdadeiramente escuta você”. Ele enfatiza que o sentido da
escuta tem a ver com prontidão. Essa filosofia do autor se aplica na vida
conjugal de Aurora e Eugênio nestes 75 anos do sacramento do matrimônio. Eles
construíram a vida no alicerce do diálogo e no amor para estarem celebrando as
bodas de diamante. A filha Nanci Bellini Martins fala de seus pais em nome de
seus irmãos com o orgulho de ter aprendido deles tudo aquilo que precisava para
seguir os seus passos. O diálogo, compreensão, honestidade, amizade, carinho,
afeto, ética, trabalho, desafios e tudo o mais que poderia ter de uma família
constituída no amor é o legado que todos recebemos. Conheço a Nanci e seu marido Carlos há mais de
35 anos e testemunho que eles seguem a filosofia dos pais e sogros. Em dezembro
completam 43 anos de casados.
É nessa linha de diálogo,
prontidão, e busca da convivência de sentimentos de partilha que Aurora e
Eugênio viajaram muito, passearam de mãos dadas, se beijaram, e sentaram à
noite na varanda da casa rodeados de filhos, netos e bisnetos para apreciar a mesma
lua cheia brilhando do dia de seu casamento. Foram os sonhos de 1944 que chegam
agora em 30 de setembro de 2019 fortalecidos pelas alianças da espiritualidade
conjugal na festa preparada com orações, bolo e champanhe para brindar os 75
anos com alegria. Esse dom maravilhoso que as gerações de cinco filhos, Pedro,
Leni, Nanci, Antonio Eugênio e Nilsa, oito netos e sete bisnetos acreditam ser
eterna para quem ama de verdade. A vovó
Aurora em 10 de outubro completa 93 anos e o vovô Eugênio tem 96 anos. Como
católicos de missa e terço diário são almas gêmeas no amor a Deus com as graças
de sua fé e, com certeza, continuarão unidos no paraíso no dia em que forem
chamados a estar entre os filhos amados do Criador.
Foto sugerida, mas fiquem a
vontade de colocar o que desejarem, como um par de alianças, etc: casal Aurora
e Eugênio
Vanderlei Testa, jornalista e
publicitário escreve quinzenalmente no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no
www.facebook.com/artigosdovanderleitesta
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