O “Campo de avião Schleiffer
“ de Sorocaba
Por Vanderlei Testa
Um amigo chamou um aplicativo de carro. “Quero ir à rua
Adolfo Frederico Schleiffer na Vila Elza, em Sorocaba”. O motorista abre o App e aparece na tela do celular o endereço. O
proposito da pergunta é pesquisar se ele, com muitos anos de experiência em
dirigir na cidade, conhece a origem dos
nomes do local solicitado . No trajeto, a pergunta ao condutor do veículo: “você
sabe quem foi a Elza que leva o nome da Vila?”. “E a pessoa que leva o nome da rua Adolfo Frederico Schleiffer ?”. Afinal, quem eram
esses nomes dos logradouros, questionei em várias pesquisas realizadas. Perguntei a
mais de vinte pessoas se sabiam onde fica a Vila Elza em Sorocaba e se alguém
já tinha ouvido falar do Adolfo Schleiffer. Ninguém soube responder. Pensando
bem, por que será que existem locais importantes na cidade, com nomes
homenageados e sem que a população saiba da sua história. E nem conhecida dos
próprios moradores dessas ruas das vilas. Quando me perguntaram se eu conhecia
a Vila Elza, contei que em minhas décadas de vida nunca tinha ouvido falar
desse nome em Sorocaba e principalmente, relacionado com o “campo de avião” da
época em que viveu na cidade. Curioso, fui atrás da tal Vila Elza e do Adolfo.
Encontrei os dois, se é que se pode chamar de Vila, a grande área habitacional
e comercial localizada no entorno do atual Aeroporto Estadual “Bertran Luiz
Leupolz “. Penso que é um bairro de grandes proporções. Explicarei
adiante que o aeroporto (“campo de avião”) teve a sua área doada e foi construído
e fundado pelo Adolfo e pelos iniciadores do Aeroclube, em 1942. O presidente da Academia de Letras da cidade
de Peruíbe, poeta João Libero, filho do fundador da Vila Angélica, conviveu com
a família da imigrante alemã Elza Schleiffer nas visitas que ela fazia em sua
casa. E veio na prosa que tivemos os fatos que me levou a conhecer a jovem Elza
e seu esposo Adolfo. O Adolfo Frederico Schleiffer,
de nacionalidade alemã, escapou das tragédias da II Guerra Mundial para morar
no Brasil com sua esposa Elza. Foi nessa
triste época do inicio até ao final da guerra, onde o mundo viveu momentos de
combates, que eles sentiram como o nosso país é abençoado pela liberdade e
respeito humano. A acolhida em Sorocaba do casal Schleiffer possibilitou a sua integração
na comunidade alemã e com os moradores. Relembrando essa fase da história do
município de Sorocaba, o Censo de 1940 apontava 70.299 habitantes, sendo 52.242
habitantes na região urbana. O prefeito em 1942 era o Cap. Augusto César do
Nascimento Filho, tendo mandato de 29/07/1938 até 01/07/1943. José Fernal foi eleito
prefeito depois até outubro de 1945. A
pequena cidade de Sorocaba no interior paulista era a 11º do estado de São
Paulo em população. O sonho de pioneiros na aviação dava início a uma
trajetória histórica que só foi truncada atualmente pelo cancelamento do
funcionamento do Aeroclube e sua Escola de Pilotagem. O que é um retrocesso na
história da cidade.
Adolfo Frederico Scheleiffer acreditou na cidade e juntou as suas
economias. Depois de conversar muito com a esposa Elza, acabou comprando uma
área com alguns alqueires de terra que existia nessa região da zona Oeste de
Sorocaba. Sua primeira inciativa de investimento foi o de doar uma imensa área
ao primeiro “campo de avião” da cidade. Com a pista em terra vermelha e um
galpão-hangar para receber algum avião que aparecesse. Eles gostavam de avião, pois na Alemanha onde
moravam, as aeronaves eram vistas no céu desde as suas infâncias. Adolfo também teve o sonho de adquirir o seu
avião. Ele queria a sua aeronave em um
local apropriado. Recebeu o incentivo em realizar essa obra do “Campo de
aviação” com o aval do então prefeito Cap. Augusto César do Nascimento Filho e
pessoas apaixonadas por aviação. Sorocaba conseguiu o sonhado “Campo de avião”-
em 27 de março de 1943. Com a chegada
desse empreendimento inédito na cidade e outras ações empresariais na região,
como o Aeroclube e Escola de Pilotagem, em aberturas de ruas e infraestrutura
para moradias, era necessária a oficialização de um nome para a vila que se
formava ao lado do atual aeroporto. Foi daí que a esposa Elza Schleiffer
receberia o carinho do marido com o seu nome sendo registrado oficialmente nos
anais da prefeitura do município: Vila Elza. É lá também na Vila Elza que anos
depois, surgiu a rua Adolfo Frederico Schleiffer, cuja homenagem, prestada após
o seu falecimento é um marco histórico a ser relatado pelos historiadores do início
da aviação em Sorocaba. Quem mora nessa Vila e Rua não imagina que a Elza e o
Adolfo foram um casal de jovens imigrantes unidos pela fuga da guerra. O matrimônio e o amor à cidade os levaram a
plantar sementes de prosperidade à Sorocaba. Tomara que agora, 77 anos depois, 1942-2019, o
povo e as autoridades consigam reativar o Aeroclube e a sua Escola de Pilotagem
como é o sonho daqueles que sempre acreditaram nessa entidade, como o piloto
Telmo Pereira Cardoso. Tenho um amigo Marcelo Alonso que trabalhamos juntos e
se formou na Escola de Pilotagem em Sorocaba. Já voei com ele naqueles tempos
do Aeroclube. Trabalhou como instrutor por dois anos no Aeroclube e há anos é
um dos Comandantes de aeronave em uma grande companhia aérea do Brasil. Marcelo
Monteaperto Alonso reafirma seu desejo de ver Sorocaba novamente com o
Aeroclube e a escola formando novos alunos, possibilitando a geração de emprego
nesse segmento, assim como aconteceu na sua vida.
Outros imigrantes alemães vieram para Sorocaba, como o Bertram
Luiz Leupolz que se dedicou a construir
a conhecida empresa de manutenção de aviões Conal instalada nos arredores do
aeroporto. Convivi anos com ele em associações, como o Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo-Ciesp. Também da família de Alexander e Ana Baudenbacher,
que sempre viveram na região do aeroporto, os filhos Paulo e o Alexandre, há mais de 40 anos são
pessoas que admiro pela competência em seus negócios e amizade. Sorocaba que é
conhecida pelas descendências espanholas e italianas, traz na sua história a
importância dos alemães como Elza e Adolfo. E, para a minha surpresa, descobri esta
semana em documentação, que o meu bisavô materno, italiano Angelo Modolo se casou
pela segunda vez com a alemã Anayde Gerdes, minha bisavó. E daí que também
tenho descendência ítalo-alemã.
Vanderlei Testa, jornalista e publicitário escreve
quinzenalmente às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Aos sábados, no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta
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