Quem paga o pato ou tapa o sol com a peneira
Foto: José Theodoro Mendes: meu professor de
português no ginasial que motivou o prazer pela leitura e inspirou este artigo
nas reminiscências do passado.
Opa! Pensou no
jogador do São Paulo e quanto foi pago pelo seu contrato? Não é esse pato
atleta. A frase popular: “quem paga o pato” é conhecida, tão bem como aquela
que diz: ”João-sem-braço”, ou “tapar o sol com a peneira” e, mais ainda, para
fortalecer a nossa história de expressões a que se refere “fazer um pé de
meia”. Vamos em frente dizia o amigo professor de português quando explicava
essas “pérolas” à minha ingenuidade de entender nos meus 14 anos de idade as
coisas que ouvia dos mais velhos. Era comum a sabedoria popular naquela época
sem internet em ditar as regras do cotidiano. Eu dizia em casa: “pai, tem um
amigo na escola que nunca faz nada do que se pede em aula e ainda reclama de
tirar notas baixas”. E lá vinha a resposta com essa afirmação: “esse seu amigo
gosta de dar uma de João-sem-braço”. Só depois que fui entender a frase usada
para definir o colega preguiçoso nas aulas de gramática. Realmente o português
ensinado pelo professor José Theodoro Mendes, um amigo que prezo muito e que
conquistou minha admiração pelas suas aulas e me inspirou a gostar de ler e
escrever deixava minhas dúvidas “a ver navios”. Assim que aprendi também que
“pagar o pato” é até certo ponto trágica.
Pato, na verdade foi inserida na frase como um adjetivo dirigido às
pessoas bobas, ingênua ou até sem coragem. Ou seja, a pessoa que é ou que gosta
de ser enganada ou que perde nas suas investidas. Uma metáfora muito em uso
ainda é “jurar de pés juntos”. Em 1º de abril foi o chamado “dia da mentira”.
Teve gente que enfatizou um fato como verdade, “jurou de pés juntos”, mas era
mentira, uma brincadeira. Só não valeu para quem afirmou para a namorada que a
amava e iria se casar, jurando de pés juntos. Aqui deixo de lado o nome quando
ouvi a voz do brincalhão no celular em plena segunda-feira na academia. Os
estudiosos afirmam que a frase teve origem no período da inquisição, em
torturas, e tinham as mãos e pés amarrados, para ser obrigado a dizer a
verdade. Tem político que vive “jurando de pés juntos” que não sairá candidato
e na hora H lá está ele brigando pela vaga. Conheço vários assim. E “tapar o
sol com a peneira”? Ocultar algo é parte do DNA de muita gente. Vivem desejando
adiar a responsabilidade de executar agora mascarando a situação da realidade.
Normalmente quem gosta de tapar o sol com a peneira, é conhecido pelas suas
atitudes desleixadas. Participa de todas as entidades que o convidam e assume
funções que nunca cumprem pela sua irresponsabilidade. E daí, deixamos para o
final destas expressões, a famosa reserva financeira que as publicidades
apregoavam na fase das cadernetas de poupança. “Fazer um pé de meia”. Lembro-me
de um amigo João que economizava tudo o que podia nos mínimos gastos
necessários. Vivia dizendo que iria fazer “um pé de meia” para comprar um
carro. Demorou uns oito anos para a “meia” encher e o fusquinha amarelo surgiu
um dia na porta da escola. Dizem os entendidos que os portugueses trouxeram
essa expressão ao Brasil. Como antigamente as pessoas tinham receio de guardar
suas economias em bancos, preferiam deixar em casa, em gavetas, colchões e pés
de meias, muito bem costuradas. Dizem que em Sorocaba há um empresário bem
sucedido que continua até hoje com esse costume de guardar dinheiro em “pés de
meia”. Folclore ou não, vale pela citação do fato contado por um amigo. Encerro
com a letra de uma música composta pelo diácono Nelsinho Corrêa e Padre André
Luna, da Comunidade Canção Nova: “Fé em Deus e pé na estrada”. Simples de
entender e uma lição de vida neste tempo quaresmal. Fé em Deus e pé na estrada/Da vida não
levo nada/A não ser o bem que fiz.
Vanderlei Testa
Jornalista e Publicitário
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