Uma tarde de domingo depois da pandemia


Uma tarde de domingo antes da pandemia

O livro “Quanto mais velho melhor”, escrito por Kathryn e Ross Petras, é uma coletânea de frases à reflexão. Gosto de ler e pensar em algumas delas. Todas as frases têm as assinaturas de seus autores. O comediante americano Grouxo Marx é um deles e citou: “Tudo se reduz ao seguinte; você tem que estar no lugar certo, na hora certa, mas, quando isso acontecer, é melhor que esteja alerta e seja eficiente”. Groucho Marx, pseudônimo de Julius Henry Marx foi um comediante e ator, célebre como um dos mestres do humor. Fez treze filmes com seus irmãos Max, Nasceu em Nova Iorque em 1890.


Começo meu artigo com esse detalhe da frase do livro, porque em um domingo de janeiro, à tarde, antes da pandemia do novo coronavírus, aconteceu comigo esse fato de estar no lugar certo e na hora certa. Passeando pelo shopping depois do almoço, percorri alguns corredores e, em determinado momento, sentei-me em um banco para descansar e ver o movimento das pessoas. Gosto de observar o comportamento humano, pois me traz inspiração para escrever. Poucos minutos se passaram e ouvi uma voz dizendo o meu nome vindo a alguns metros ao lado. Olhei e, atraído por uma pessoa sentada do outro lado, me dirigi até lá. Ele me olhou, sereno e sorrindo, em expressão feliz do encontro e disse: Vanderlei, você se lembra de mim? Contemplei o seu rosto e cabelos brancos. Respondi: sei que te conheço, mas, não me lembro do seu nome. E daí surgiu à história contada por ele, Arnaldo Areas Rosa. Hoje com 62 anos de idade, contou que trabalhou comigo em seu primeiro emprego em 1974, na Metalúrgica NS Aparecida.  Entre as suas funções, ele usava o normógrafo, uma caneta de tinta nanquim que escrevia no papel vegetal as páginas do “Lingotinho”. Esse foi o nome do jornal interno da empresa. Um encontro fraterno que rendeu abraços e lembranças com detalhes dos anos em que não nos vemos. Perguntei: como se lembrou do meu nome e ao ver-me não vacilou em citá-lo? Disse que eu era lembrado sempre por ele e pelos artigos no site do Jornal Ipanema e rede social que lia aos sábados sobre o que escrevo. Destaco aqui a importância da amizade e de sermos reconhecidos por fatos bons na vida. Fiquei imaginando se tivesse havido alguma desavença entre nós na empresa, não teria acontecido esse encontro de amigos. Pense nisso quando você faz alguma inimizade.


O segundo fato de estar no lugar certo, na hora certa, ocorreu cerca de uma hora depois. Em outro andar do shopping, em uma sorveteria, após ter o copo do sorvete de chocolate pronto para ser degustado, estava em pé olhando uma mesa que seria logo desocupada. Foi quando uma voz surgiu em outra mesa, chamando o meu nome, Vanderlei Testa. Olhei e a pessoa foi logo me convidando a estar ali sentado com sua família. Em seguida já estávamos conversando. Ele contava da sua origem no bairro Além Ponte, perto de onde eu morava. Era irmão de um saudoso amigo Edelton Fernandes de Freitas que recentemente partiu ao paraíso. Relembrando o passado surgia o seu nome Edson Fernandes de Freitas e décadas de recordações. Foram momentos com sorvete ainda mais saboroso pelas histórias e lembranças dos nossos tempos de jovens. Da mesma forma disse que lia os meus artigos e que me acompanhava nas mensagens publicadas na rede social, jornais e televisão.
E o final da tarde o programa era passar em um supermercado para algumas compras de mantimentos. Já no estacionamento, com o capô do porta-malas levantado, estava colocando os saquinhos de produtos. Foi quando ouvi pela terceira vez naquela tarde uma voz chamando o meu nome. Confesso que até sorri, porque não acreditava que pela terceira vez, estaria no lugar e hora certa, conforme tinha lido no livro. Olhei e numa distância de vinte metros havia um carro com o vidro aberto e o motorista. Era o único mais perto do meu carro. E o motorista saiu e veio ao meu encontro. Você é o Vanderlei Testa. Lógico que me identifiquei e ele contou que era o Sidnei Belmonte. O nome naquele momento me levou aos anos 70 na rua Coronel Nogueira Padilha, onde havia uma loja de consertos de material elétrico, a “Oficina do Belmonte”. Frequentei esse lugar, pois era perto de casa. E na conversa, mais lembranças até que o seu filho, funcionário do supermercado apareceu, pois o pai tinha ido buscá-lo. Foram minutos preciosos de uma tarde de domingo que se encerrava mais uma vez com a citação de que eles, pai e filho, me acompanham pelos artigos que escrevo desde a primeira publicação.


A lição que tiro dessas três incríveis histórias de reencontro é a alegria do ser humano em estar com quem admira e se sente irmanado na vida. Motivo de imensa gratidão a eles e a tantas pessoas que ainda não tive a oportunidade de encontrar-me entre os amigos e leitores, numa amizade que vem desde os tempos da rua Santa Maria, onde nasci. Fico feliz e espero que continuem essas chamadas do meu nome onde quer que esteja para conversarmos. E como cita o livro, “quanto mais velho ficamos, melhor seremos agraciados com a celebração da amizade”.
E para finalizar, as palavras de Albert Einstein, físico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade e ícone da física moderna e mecânica quântica que nasceu em março de 1879. Ele permanece até hoje influenciando o mundo com o seu pensamento. E no livro consta essa sua verdadeira "pérola de vida”.
“Os objetivos que a humanidade normalmente busca-propriedade, status, luxo- sempre me pareceram desprezíveis. Nunca considerei que o conforto e a felicidade fossem por si só, um fim. Por princípio, acho isso mais apropriado para uma vara de porcos. Os ideais que têm iluminado meu caminho e renovado minha coragem para enfrentar a vida com alegria sempre foram a Verdade, a Bondade e a Beleza”, disse Einstein.

Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve aos sábados no www.jornalipanema.com.br /opinoes e  no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e www.blogdovanderleitesta.com

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