A Rua Artur Gomes foi um doce ao
beija-flor
Acredito que o melhor jeito de se inspirar a escrever um artigo sobre
fábrica de doces é estar saboreando colheres de doce. No caso, um delicioso
doce caseiro de abóbora que vi o preparo horas antes na cozinha de casa. Quem
era consumidor de uma fábrica artesanal de doces que existia na Rua Dr. Artur
Gomes vai se lembrar desta história. Quem não era, vai conhecer. Foi nos anos
60. A família de origem portuguesa do Manoel Teixeira Patrício comandava o
negócio. Tinham vindo a Sorocaba para começar a produção do que mais gostavam
de fazer desde os seus antepassados com os pastéis de Belém. Os Doces dos mais
variados sabores da tradição de Portugal chegaria à terra de Baltazar Fernandes
com as mãos dos confeiteiros. Eles criaram uma marca que até hoje, depois de 60
anos está na memória dos sorocabanos: Beija Flor.
O pássaro que encanta os nossos jardins com o bater de suas asas
delicadas em busca do pólen foi o escolhido pela família do seu Manoel.
Caminhões baús foram ornamentados com a pintura na lataria em destaque “Doces
Beija Flor”. Esses veículos se tornaram presentes em todo o comércio
alimentício de Sorocaba e região, rodando pelas ruas da cidade. O amigo
Reinaldo, que faz parte desta história, me contou que as balas eram uma atração
à parte. O funcionário especializado chamado de baleiro na Beija Flor era o
Nelson. Os sabores de hortelã, banana, café, anis, vendiam muito. Encontrei na
rede social uma foto dessa época com o caminhão azul da Beija Flor. Lógico que
fui ler os comentários. Conto logo mais, depois de relatar que nos anos 70 a
fábrica foi vendida com um bom lucro ao seu Manoel.
Um grupo de empresários portugueses de São Paulo, capital, chegou a
Sorocaba e “bateu o martelo” na oferta. O seu Manoel não hesitou em transferir
seus equipamentos daquela casa e barracão da rua Dr. Artur Gomes, que ia com o
seu quintal até perto da Escola Padilha. Com o dinheiro para investir na
expansão, os novos proprietários decidiram adquirir uma área na Vila Assis na Rua
Álvaro Guião e transferiram as instalações para o bairro Além Ponte. Nesse
local, a Doces Beija Flor perdeu seu nome e ganhou outro: “De Malta”. Essa
marca ganhou projeção nacional. Os investidores também não resistiram a uma
oferta de venda que chegou quatro anos depois com um português de nome Augusto.
O Augusto era um dos sócios da Fábrica de Doces Campineira e queria
investir em Sorocaba. Eduardo Augusto
Delgado adquiriu em novembro de 1974 o controle da De Malta. Ele veio de Campinas
e convidou as filhas Magali e Reinalda e os genros para cuidarem da
administração da fábrica. A continuidade da De Malta, também teria a gestão de
produção de origem portuguesa da família Delgado. As inovações dessa família
atingiria o mercado de vários Estados do país. Diariamente estacionavam os
caminhões com placas de várias cidades na entrada da De Malta. A produção de
mais de trinta itens de doces que conquistaram o paladar das crianças e adultos
ainda está na lembrança do Reinaldo Beserra dos Reis (foto em festa na De
Malta). Ele foi com o seu cunhado Valter Franceschini os gestores com o sogro
Augusto Delgado do crescimento da De Malta.
Como citei que li mensagens nessa fase da Vila Assis com a foto do
caminhão da Beija Flor, cito duas recordações: a Neli Gonçalves contou que seu tio era o motorista de um desses na
época da Beija Flor. Já a Cássia Costa ao ver a foto do caminhão e saber do
incêndio que destruiu no dia 3 de agosto de 2020, a “Docelinho”, atual
revendedora de doces na Vila Assis, desabafou: “Que triste essa notícia. A
fábrica Beija Flor e De Malta pra mim é saudade da minha infância! Remete-me ao
cheiro doce que saia das suas chaminés. Morei vizinha na rua Álvaro Guião”.
Reinaldo lembra que a fábrica De Malta tinha cerca de 200 colaboradores.
A linha de produção em suas máquinas gerando um verdadeiro perfume no ar com
amendoim, coco, açúcar, coco- queimado e tantos outros. Reinaldo ao me
responder sobre os doces “carro chefe” da antiga Beija Flor e De Malta, destaca
o doce de coco tropical, mistura de cocada com abóbora, paçoquinha, suspiro, Maria
mole, doce de batata, doce de leite, gibi, amendoim caramelizado em vários
outros itens e as tradicionais balas. Tudo caminhava bem em 16 anos sob a
experiência e comando geral do português Augusto, com quem tive amizade em
muitos anos com sua família. Em 31 de dezembro de 1988 o patriarca Augusto faleceu. O
abalo familiar foi grande. A decisão de continuar a De Malta levou a decisão de
separação da sociedade. O genro Valter Franceschini ficou por dois anos à
frente dessa fábrica. Reinaldo criou a Distribuidora de Doces “Bom Pastor”,
onde atualmente é o prédio de uma funerária. Reinaldo me contou que essa década
a economia movimentou as indústrias de doces no Estado de São Paulo com marcas
famosas entrando no mercado. A concorrência acabou por fechar as duas últimas
empresas desde a pioneira Beija Flor, De Malta e a Bom Pastor. Hoje o Reinaldo é diretor superintendente da Santa Casa de
Sorocaba. Um excelente profissional, líder carismático e amigo, vizinho de
quatro décadas no Jardim Saira, cuja história de vida eu acompanho com sua
esposa Reinalda. Posso afirmar que eles construíram o mais doce das suas
decisões em fundar a “Comunidade Dois Corações”, entidade instalada no bairro
do Éden, em Sorocaba. O saudoso Valter
Franceschini também deixou um legado de trabalho em prol da população através
da sua história em parapsicologia.
São histórias de Sorocaba que comemora dia 15 de agosto 366 anos.
Fotos: Lembranças sorocabanas/Facebook/VT
Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no
Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta
Comentários
Prezado Vanderlei,
ResponderExcluirAgradecemos a lembrança e as generosas palavras dedicadas ao meu saudoso pai. Entretanto, a bem da verdade e preservação da história, devo afirmar que ela está mal contada. Procure conhecer melhor.
Abraços,
Pedro Franceschini
Pedro grato por suas considerações. No dia 18 de agosto uma nova história com os personagens vai responder suas ponderações.
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