Everaldo, 92 anos, é o mais antigo barbeiro de
Sorocaba
O
último artigo da série de barbeiros levou-me ao Everaldo Lázaro, 92 anos de
idade, o mais antigo em atividades em Sorocaba. Fui ao seu salão montado na
garagem da sua casa na rua Capitão Grandino 342. Um senhor tão forte quanto à sua proposta de
vida e que passa sete décadas ao lado da sua cadeira de barbeiro. Ele nasceu no Estado de Sergipe. Quando partiu
do Nordeste aos19 anos para buscar trabalho em São Paulo, Everaldo que nunca tinha
ouvido falar de Sorocaba acabou por vir morar nesta cidade. Curioso e atento, o
jovem Everaldo teve a sua primeira oportunidade ao estar aperfeiçoando o ofício
de barbeiro no salão do Manoel em 1951 na rua Santa Clara. Depois trabalhou no
salão do Telles, na rua da Penha. O salão Odeon foi à chance em 1953 que
agarrou e nunca mais o deixou nestes 71 anos ininterruptos de profissão. Entre
os seus clientes, os saudosos dom Aguirre, Monsenhor Francisco Antônio Cangro,
“padre Chiquinho”, Otto Wey Neto, prof. Milton Marinho Martins, João Peres e
Juvenal de Campos. As primeiras pessoas
a me contar do Everaldo foi o Paulo Mendes e o Mário Ayres. Ele relatou que o
seu pai Roberto Luiz Ayres é cliente e amigo do Everaldo há mais de seis
décadas. Roberto era ainda estudante de direito quando fez o seu corte de
cabelo no salão da rua Dr. Braguinha onde o Everaldo trabalhava. Aposentado, Roberto
continua frequentando o salão do amigo e barbeiro da juventude. Essa fidelidade
ao Everaldo, também foi compartilhada pelo Paulo Francisco Mendes. Segundo me
relatou enquanto cortava o cabelo com Everaldo no dia que fui entrevistá-lo, em
1958, ele tinha 10 anos de idade quando o seu pai o levou no salão Odeon. O mesmo barbeiro estava lá sendo fotografado
por mim, depois de 64 anos cortando o cabelo do Paulo neste mês de fevereiro de
2022. Everaldo é viúvo da sorocabana e descendente de espanhóis, Josefa Parra.
Eles tiveram seis filhos. Com o jornal Cruzeiro do Sul nas mãos, estava lendo o
artigo dos barbeiros, antes do corte do Paulo.
O
menino Marcos Rogick morava no centro da cidade e seu pai o levava no salão
Odeon. Eles iam a pé atravessando a praça Cel. Fernando Prestes e desciam até a
rua Braguinha. Marcos conta uma curiosidade: “eu era pequeno, tinha que colocar
uma tábua na cadeira para ficar na altura para o Everaldo cortar o meu cabelo”.
Na Rua Cel. José Tavares, ao lado do “Theatro Alhambra” havia o barbeiro Dito, conhecido
como “O Fino da Tesoura”. O Oscar Thomé Junior relatou que o Dito cortou o cabelo
do seu pai, avô e o dele, na sua infância. Era o famoso corte bodinho que a
maquininha puxava o cabelo e doía muito. O Erivaldo Gomes citou na pesquisa: eu
cortava na barbearia do Seu José Polido, na rua Quinzinho de Barros. José Francisco
Romero ia ao barbeiro Cafisso, na rua. Nogueira Padilha. Sônia Maria Gonçalves
frequentava o salão da Diná na rua Brigadeiro Tobias e da Antonieta na rua São
Bento. O Antônio Carlos Sartorelli contou que frequentava o salão do Lotério,
na Pracinha da Vila Jardini. O Sidney Haro Firmo ia ao salão Carreteiro na rua
Cervantes. O José Carlos Gil destacou os barbeiros Mário e o filho Edson
Gambacorta. O José Eduardo Prestes cortava no Benedito (Ditinho) e seu filho
Osvaldo, na esquina da Rua Catalunha. O Edinei Pereira Amaral disse: O meu
barbeiro era o Elezier, na rua Nogueira Padilha.
Milton
Gori trabalhava na fábrica de tecidos Santa Maria e se lembra do salão do
Donaldo, na rua Santa Maria e do Emiliano, na rua Tereza Lopes. Saudades da
infância e juventude levou o Edson Rubens Santos a escrever: “o seu Sílvio já
era um senhor de idade, cortava o cabelo fumando em um salão minúsculo, raspava
com a navalha sempre atrás da orelha e passava uma pedra na pele para parar de
arder. Na periferia era praticamente o único que fazia isso”. “Pensando nele
deu uma grande saudade e gostaria de saber se ele está vivo”, disse. O Oswaldo
Junior cortou cabelo no Zé Roque, do Largo do Divino. O saudoso fotógrafo Lima
Duarte era barbeiro em Itapetininga e cortava o cabelo do menino Antonio
Labrunetti. O Ailton Lanzar citou: quando criança, eu morava na rua Prof Toledo
e cortava com o barbeiro Berto, na av. Afonso Vergueiro, em frente ao peladão
do Scarpa. O Horácio Cenci Antunes citou o Osvaldo Caos do Salão na Rua da
Penha. Moacir Vigari se lembra do Paschoal, da rua Tereza Lopes. O Beda, pai da Marisa Oliveira tinha fila
para cortar cabelo com ele. Enquanto aparava a barba e cabelo, o Beda ouvia os
canários no salão e sempre assobiava com eles para os clientes sentirem-se felizes.
Maria Aparecida Zambianco, a “Cidinha do salão Estilo Z” atua há 18 anos como
cabeleireira na Vila Progresso. Ela ainda atende vários clientes desde que
começou modestamente na sua casa em 2004, após curso de cabeleireira no Serviço
Nacional do Comércio (Senac). Ela se
orgulha da profissão e de estar em seu salão próprio que montou em um
confortável espaço na rua Artur Bernardes. Na Vila Santana, depois de ter o seu
salão na Vila Hortência, o barbeiro Vavá, com 65 anos de profissão, ainda corta
cabelo no salão do Irineu, na Vila Santana. Vavá tem 80 anos de idade e, depois
do Everaldo, é o segundo mais antigo da cidade em atividades.
E
encerrando esta série dos barbeiros, cito o barbeiro Xisto, (Darci Paula
Santos), da rua XV de Novembro, vizinho da loja Delosso. Ele cortava o cabelo
do saudoso comerciante Elias Antonio José, contou Paulo Roberto Jorge Alves. O
Xisto deixou saudades tendo cortado o cabelo de centenas de sorocabanos durante
mais de 50 anos. Era uma pessoa alegre e torcedor do Corinthians.
Fotos
Vanderlei Testa/arquivos
Vanderlei
Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) Jornalista e Publicitário escreve
às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul.
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