O menino das bexigas
O
menino das bexigas
Havia um menino em 1958 com 11 anos de idade.
Ele usava calça curta, camisa branca e um sapato preto. As roupas era a sua mãe
que comprava os tecidos e costurava na sua máquina Singer. Essa máquina usada
nos anos 50 e 60 acumulavam muitas horas de pedalada para a agulha deixar a sua
linha nos moldes. O menino gostava de ficar olhando a mãe costurar. Um pequeno
quartinho no fundo da casa servia como espaço que hoje chamamos de ateliê.
Durante a semana, o menino frequentava o Grupo Escolar Senador Vergueiro
cursando o quarto ano. A professora Isabel Morales anotava as notas no boletim.
Mensalmente o pai do menino assinava em frente aos números de cada tópico, como
comportamento. Se fosse menos de 80, tinha conversa séria com os pais. No dia 7
de setembro, havia desfile da Independência do Brasil e os alunos participavam
das festividades durante a semana na escola.
Aos domingos, uma grande feira livre
centenária em Sorocaba enchia a rua Santa Maria, desde as primeiras horas da
madrugada. As tradicionais bancas de verduras e frutas, peixes, bolachas,
roupas, brinquedos, alpargatas rodas (sapatilhas de lona), utilidades
domésticas e, até os primeiros rádios de pilha do Brasil, importados do Japão,
davam um colorido agradável às centenas de consumidores que compareciam com
suas sacolas.
Na porta da sua casa, o menino acordava cedo
para ficar sentado no degrau para apreciar a movimentação. À sua frente tinha
uma banca de balas e bolachas de um espanhol, o “Paco”. Ao lado, as verduras e
frutas da Antônia e Silvio Galvão. Os olhos do menino, no entanto, ficavam a 20
metros de distância. É que lá estava um vendedor de bexigas. Com uma vareta na
mão e a ajuda de um chuchu para fixar os pauzinhos com bexigas coloridas, esse
alegre senhor agitava os balões com a sua simpatia às crianças que acompanhavam
os seus pais. Ele falava, brincava e sabia vender as suas bexigas como ninguém.
O menino via tudo isso e ficava fascinado.
Um dia, o menino chegou ao seu pai e disse: “pai,
eu também quero vender bexigas”. Com o consentimento e a compra de algumas
unidades de bexigas o menino se animou. No próximo domingo, o menino acordou
cedinho, pegou um pau de vassoura, foi até a dona Antônia e pediu um chuchu.
Colocou as bexigas em varetas e todo sonhador sentou no degrau com os pés na
calçada. Um detalhe importante é que o menino tímido não sabia que para vender
necessitava falar e fazer publicidade do seu produto. Essa comparação com o
senhor vendedor animado da esquina, é para dizer que o menino desse jeito, não
vendia nada até encerrar a feira. A sua falta de comunicação com as pessoas que
passavam na calçada resultou na decepção de terminar a feira sem realizar o
desejo de ganhar uns trocados. Ainda hoje, muitas pessoas abrem as suas lojas e
ficam esperando atrás do balcão que os clientes entrem. Eles se esquecem de
atrair as pessoas com sorrisos, conversas, sem timidez na comunicação.
Sem desanimar, o menino decidiu montar uma
caixa de engraxate e substituir as vendas das bexigas para engraxar sapatos na
porta da sua casa. Mais uma vez a sua timidez provou que sem falar e cativar os
possíveis clientes iria “fechar rápido o seu novo negócio”. Foi o que aconteceu
em sua vida de menino empreendedor.
A terceira iniciativa do menino estava ligada
ao convite do Paco para vender bolachas e balas na sua banca. Além de receber
uma mesada ainda podia saborear as guloseimas. Aí deu certo. A freguesia da
banca chegava e pedia os produtos, bastando ao menino pesar a quantidade
solicitada.
O aprendizado que ficou na história desse
menino é que em 2022 ele está comemorando 50 anos de trabalho como profissional
de comunicação. A vida e o estudo ensinaram as lições. Recentemente, agora
adulto, proferiu palestra no Núcleo Sorocaba da Associação dos Dirigentes
Cristãos de Empresas-ADCE SP, com o tema: “Os desafios da Comunicação
Empresarial”. Aos empresários, a certeza na fala do menino que o êxito de
qualquer negócio começa na comunicação com os clientes conquistada com
simplicidade, “olho no olho” e respeito.
O menino da história sou eu! Os meus 50 anos
de trabalho foram iniciados em comunicação em 1972 na Siderúrgica NS Aparecida (16
anos), Grupo Pagliato (3 anos) e VT Publicidade (31 anos) comemorados dia 27 de
junho de 2022. Cinco décadas de comunicador que traduzo em três palavras:
gratidão, paixão e esperança.
Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com)
Jornalista e Publicitário
escreve no portal jornal Ipanema
Comentários
Postar um comentário