As paixões dos moradores do Além Ponte

Lembrar-se do passado com paixão é a melhor definição de túnel do tempo. Basta apenas acender o pavio, como fiz em uma pergunta às pessoas de idades diferentes: ----- “Qual a lembrança do bairro Além Ponte que mais emociona você? --- O campo do São Bento da Rua dos Morros, é um símbolo insuperável da minha vida, lembra Walcir Dabague. O Sérgio Antônio Bernardo entrou no túnel e voltou 60 anos para reviver as suas brincadeiras em 1960 no campo do São Bento. A mais distante lembrança está nas cebolas espalhadas pelas calçadas da Rua Teresa Lopes e Rua Santa Maria, conta Jefferson Gomes. A cebola é uma hortaliça descoberta na Ásia e cultivada na China e Índia. Os imigrantes portugueses que trouxeram a cebola ao Brasil, diferente do que muitos imaginam que foram os espanhóis. Em Sorocaba, essa tradição de secar cebolas nas calçadas surgiu nos anos de 1940 com os espanhóis que povoavam o bairro Além Ponte. 



No primeiro domingo de janeiro, a imagem de Nossa Senhora Aparecida retorna do Santuário de AparecidinhaNo trajeto dos devotos havia um antigo comércio de tecidos na Avenida São Paulo, do Vitor Hage, sobrinho do saudoso Elias, dizem aex-funcionárias Cidinha Zambianco e sua irmã Celisa que trabalharam na loja em 1978. A Maria do Carmo Sewaybricker mantinha na porta da loja o seu ponto de aguardar a passagem da santa desde a madrugada.

Foi construído na Rua Campos Sales o Parque dos Espanhóis. Antes de surgir o parque os moradores chamavam “Barreiros” essa área que sempre estava alagada. O Alexandre Prado Minto frequentava na sua meninice o Barreiros para caçar girinos no córrego. Ele faz questão de lembrar-se da lata de óleo usada nessa caçada.


A Monica Ivanov diz que na gastronomia de sua juventude nada se comparava à barraca de doces caseiros, de pastel e enroladinho que ela frequentava na feira livre da Rua Comandante Salgado. Na sua casa havia o hábito de consumir no primeiro supermercado da Vila Hortência. Nos tempos dos bobes no cabelo e penteados de final de semana, o Salão da “Tia Maria”, na esquina da Rua Sevilha, atraia muitas moradoras. As primeiras televisões dos moradores do bairro, quando necessitavam de conserto, iam parar na oficina do “seu João Belmonte”. Os ansiosos donos não queriam perder os capítulos da primeira novela no Brasil — “Sua vida me pertence”, da TV Tupi, em 1951. 

Nos anos 50, quem fazia sucesso era o Cine Eldorado. Das aventuras do Rei Artur aos faroestes,a programação diária enchia a sala com as suas poltronas de madeira. Às 22 horas, acendia a luz e os menores de 18 anos eram obrigados pelas lanterninhas a saírem do cinema, diz o morador Rogério Milano. A Edna Padovani tem ótimas recordações do Eldorado, como também afirmaram José Maldonado e Shirlei Freitas. 


Dias 2 e 3 de janeiro de 2023 os fãs do Rei Pelé percorreram os corredores do campo do time do Santos, em 24 horas do seu velório. Pelé foi um ídolo mundial no futebol, tendo jogado em Sorocaba no campo do São Bento. Edson Freitas destacou: — está na minha lembrança o dia em que o São Bento ganhou do Santos, com Pelé, por 3 a 2 no Estádio ‘Humberto Reale’.

As missas das crianças celebradas pelo Frei Floriano, aos domingos de manhã, na Igreja do Bom Jesus, era um ato religioso que as crianças amavam, disse a Ana Lucia Sola. A Nilcéia Barbosa acrescentou que nas saídas das missas a sua mãe comprava sorvete na padaria. Inesquecível, diz.


Moradora da Rua Cel. Nogueira Padilha, na mesma quadra do Cine Eldorado, a professora Mary Dantas é de família que faz a história de Sorocaba. Ela afirma do movimento incrível de carros e gente em jogo do São Bento aos domingos. Foram anos da sua juventude marcados na sua memória e emoções. Tempo bom, segundo Mennain Miguel, eram os finais de tardes e início de noites, quando as famílias pegavam cadeiras da cozinha para sentar-se nas calçadas das ruas do bairro.


O jornalista Will Baptista falou do cheirinho de café torrado na Rua Cel. José Tavares. Ele parava para ouvir a música Ave Maria que tocava na torre da Igreja do Bom Jesus. A sua afinada audição recorda da infância ouvindo o apito da Fábrica Santa Maria, acordando os operários do bairro. 

O pão quentinho chamado de “pão de água” pelos moradores e consumidores da padaria do Gonçalo foi lembrado pela Maria Damásio. A Maria Lúcia HidalgTerci lembra-se das rosquinhas parafuso’ produzidas na época do Gonçalo, Cláudio Haro e dona Edite. Os bondinhos que transportavacentenas de operários de Sorocaba até Votorantim foi citado pela Janete de Queiroz Rodrigues. 

 


Vanderlei Testa( artigovanderleitesta@gmail.com) escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul



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