Figura humana do “ Chapa”


 

Gosto de escrever o que vejo. Passando pelas estradas, ruas ou avenidas, sempre vejo a figura humana do “chapa” acenando com seus braços para algum veículo de transporte de carga. Fico imaginando essa atividade incerta e até insegura daquele chefe de família nesta época de Natal. Deve sair de madrugada de seu lar e caminhar até algum lugar da rodovia para iniciar o seu trabalho. Sei lá para onde hoje deve acontecer uma carga e ganho para essa pessoa que saiu de casa pensando no presente da filha e do filho ainda de colo. Há dezenas deles na rodovia Castelo Branco, Raposo Tavares, Castelinho. Parei para conversar com o senhor Toninho. Com seus 1,70 m de altura, rosto marcado pelas rugas e mãos calejadas, no entanto, o sorriso faz parte da sua face. Seus dentes necessitando de um reparo na parte frontal não impede a manifestação de falar com alegria em sustentar uma família com a mulher e seus doisfilhos. Toninho, dizia: “o senhor sabe né, aqui não sei se terá carga nesta manhã, mas sempre há esperança que algum caminhoneiro pare e nos dê serviço”. “Confesso que durante décadas, já que tenho 52 anos, o meu serviço sempre foi de ajudante geral e até de caminhão, onde viajei entregando bebidas pela região”, contava o nosso “chapa”. “A mulher Maria e os filhos, João e Margarida, ficam comigo nos domingos, quando vamos à igreja agradecer a vida que temos”. Católicos praticantes desde crianças, o casal conta que encontram na fé a força necessária para superar as dificuldades. “Moramos de aluguel em uma pequena casa na periferia, mas somos felizes com a vida que levamos”.  “O desejo para este Natal, é que haja alguma carga na estrada e possa render algum dinheiro para a ceia em família”, diz o Toninho

As histórias que são proporcionadas na novela real da nossa existência passam muitas vezes despercebidas em nosso cotidiano. Tenho observado a cada dia no meu vai e vem pela cidade de Sorocaba e Votorantim, como podemos aprender com as pessoas que nos rodeiam, mesmo com aquelas que não fazem parte dos nossosrelacionamentos. Basta apenas olhar de lado. É no coletor que recolhe o nosso lixo em casa, seja no policial militar que encontramos na rua, no motorista que passa apressado com a sirene ligada de sua ambulância e no vendedor de pipoca com seu carrinho em frente à escola de nossos filhos ou netos. O chapa,” um ser humano digno de respeito,faz parte dessa imensa lista de anônimos, com a mesma graça de ser igual a nós, em corpo, alma e espírito. Acredito que filhos do mesmo Pai eterno. Que neste Natal possamos abrir mais os nossos olhos para acolher aqueles que acenam à nossa passagem com seus braços a pedir uma “carga” de amor fraterno em solidariedade que transportamos na caixinha do nosso coração. 

O Carlos Alberto da Fontoura Medeiros mora em Votorantim e semanalmente está no semáforo da Avenida Carlos Reinaldo Mendes, ao lado da padaria Real, no Alto da Boa Vista, em Sorocaba, com uma placa nas mãos pedindo ajuda para comprar remédios à sua esposa enferma e a ele também que tem problemas de saúde. 

Feliz Natal aos leitores da Gazeta de Votorantim e se puder, ajude o Carlos Alberto!

Arte: VT

Vanderlei Testa escreve na Gazeta de Votorantim (artigovanderleitesta@gmail.com)

 

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